Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula |
O auditório do Anhembi, em São Paulo, estava lotado de estudantes, professores e representantes de movimentos da juventude na noite desta sexta-feira para o "Encontro de Lula com a Educação". Além do ex-presidente, estiveram presentes figuras importantes, como Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp, Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, e Rui Falcão, presidente nacional do PT. Lula, como sempre, foi recebido com festa, aos gritos de "Não vai ter golpe" e "Lula guerreiro". Na sequência, iniciou um discurso que, ao menos em comparação aos mais recentes, foi mais contundente - críticas à imprensa, lembrança da necessidade de regulamentar os meios de comunicação, ironia para comentar a delação da Andrade Gutierrez e ataques ao golpismo de Michel Temer.
O evento era voltado ao debate sobre a educação no Brasil. Lula começou, então, enaltecendo os avanços obtidos nos últimos 13 anos, por meio de iniciativas como o ProUni, o FIES, o Pronatec, o Ciência Sem Fronteiras e a construção de universidades federais. Mas, evidentemente, o golpe perpetrado pela direita - em conluio com a mídia e setores da Justiça - foi o grande tópico da noite. E, de modo mais direto, Lula atacou a seletividade da grande imprensa, especialmente ao comentar o vazamento da delação premiada de executivos da Andrade Gutierrez. "Sabidamente essa empresa é muito ligada aos tucanos. Eu fiquei pasmo porque, na hora que aparece na imprensa, não aparecerem os tucanos. Eu fico pensando: será que esse PT é tão besta assim? Será que a empresa tem dois cofres - um cofre de dinheiro benzido, bom e sadio, e um cofre de dinheiro podre? O PT só vai no podre", ironizou Lula, arrancando gargalhadas de Rui Falcão na sequência. "Pô, Rui, manda o nosso pessoal pegar um pouco de dinheiro onde os tucanos pegam. Pelo amor de Deus, manda seguir um tucano. Acho que ele pega na sacristia ou vai no dízimo. O PT não aprende. A gente precisa aprender a ir só no cofre bom, o cofre de dinheiro limpo, bem honesto, porque do jeito que está não aguento mais", alfinetou.
E, ao lembrar de coisas que gostaria de ter feito em seu governo, citou a regulamentação da mídia. É um avanço considerável em seu posicionamento. Houvesse uma Lei de Meios, certamente não teríamos de conviver com a interminável indução ao ódio, feita diariamente pelos principais veículos. Lula lembrou, com razão, que a mídia tenta atribuir aos militantes de esquerda - especialmente aos petistas - a marca do ódio; no entanto, o clima de ódio e divisão é fabricado pela própria imprensa, cada vez mais descarada em sua sanha persecutória contra o PT, como instituição, e contra as figuras de Lula e Dilma. Os vazamentos convenientemente seletivos, a ausência do contraditório, a tentativa de criminalização dos movimentos sociais e os olhos hipocritamente fechados para os escândalos envolvendo a oposição ao Governo Federal: eis algumas características do samba de uma única nota tocado noite e dia pelos grandes veículos.
O ato marcou, sem dúvida, um importante endurecimento no discurso de Lula. Talvez a presença de uma juventude disposta à luta pela democracia tenha animado o ex-presidente. Mas o Lula que esteve no Anhembi nesta sexta-feira mostrou que, ao contrário do que alguns apregoavam, está vivo. Mais vivo do que estava há alguns meses. Denunciou, até, o medo que a direita tem ao imaginar a possibilidade de uma candidatura dele em 2018. Com discursos inflamados, também, de lideranças estudantis e sindicais, o "Encontro de Lula com a Educação" deu um recado muito claro: a capital paulista pode até ser o antro dos reacionários, mas foi nela, também, que mais de 500 mil pessoas foram às ruas no dia 18 de março, e 60 mil duas semanas depois. Ou seja, há disposição para luta. E Lula entendeu isso perfeitamente.
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